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domingo, 17 de maio de 2009

Fragmentos de dias dentro do poço


Quase na dormi essa noite uma, duas, três horas da madrugada, perdi a conta... era uma agonia que não passava, passavam sim... as horas, fui tomado de um desespero horrível, uma voragem que me consumia os neurônios, sem febre, sozinho no meu quarto, ventilador ligado, calor, travesseiros, e ela, ela não elas : dona Solidão, tristeza, e tantos sentimentos que desolavam-me, numa vertigem de me jogar cama a baixo, desprezado, ignorado como um mendigo desdentado numa calçada mais suja e mais violenta do Iraque, São Paulo...a nem pedir uma esmola ínfima, sôfrego como estava não poderia jamais pedir auxilio, quem me visse diria que tinha tanta coisa, mais tanta coisa pra falar que gritaria mudo, tentei tudo, tentei lê, comer, tentei pensar em algo até em alguém... na minha infância, ou algo nostálgico que pudesse tirar-me do que pudesse estar passando, chorei... foi o que conseguí, o sono abandonou-me naquele momento, sem amigos, amores e sem família também, como que num barco furado e a única maneira de escapar é... Se jogar em alto mar, sem saber nadar, levado por ondas e correntes, e lá estava eu, inerte!em movimentos confusos e complexos, eu não sei o que aconteceu, sem amparo e sem consolo continuávamos eu e ela (a Solidão) de braços dados tão apertados que parecíamos amante de longas décadas... Pensei na Europa que um dia pudesse me acolher, longe de tudo e de todos, estaria seguro, não mais atrapalharia a paz nem o sossego de alguém com histórias como essa, que nunca foram nem serão contadas apenas vivida, por quem fala e escreve sobre a vida, mas não pode vive - la.

Celso Andrade

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Volúpia Oral

Quantas bocas beijadas...


Deixadas sôfregas, abertas, fechadas, cruzadas entre saliva doce, azeda e amarga.


Ânsias deixadas, palavras caladas desse nosso roçar de lábios(pequenos, carnudos, vermelhos), mudos sedentos de água de apertos e gemidos inexprimíveis de minha sede de bocas a ainda a serem beijadas!


Celso Andrade

Porto desconhecido.


Tenho preparado-me e esperado por você há muito tempo,você que é sem nome, nem sei como é, sei apenas que espero te espero na esquina, no bar, na praia, em casa, no ônibus, nunca encontrei... Talvez eu desconfie como possa ser você, tentei te identificar pelo cheiro, pelo olhar,não! Não desconfio porque disse que não sei quem, nem como você é, mas hesito em tentar algo que possa atrapalhar a minha espera, que nem você sabe que vira assim para mim... Para nós, ou talvez para o mundo, pra me aquecer nessas noites de chuva sem cobertores, e nenhum sinal de fogueira acesa, e numa volúpia carnal nos abraçaríamos demasiadamente aflitos, afoitos, sem pressa, sem sono, sem medo ou vontade de partir, tão engenhosamente respiraríamos o mesmo ar, beberíamos da mesma saliva, essa saliva que não sei se trará de Budapeste, Bruxelas, ou talvez nem traga, e então estarei tão envolvido por você que seremos um, parados nos olhando fixo para o nada, para você, pra mim.Sem uma palavra a ser dita, nada que pudesse atrapalhar aquele encontro esperado por mim ou por você que continuo sem saber como pode ser.Espero-te de braços abertos como quem segura numa árvore milenar, meus braços não seriam o suficientemente grande pra te abraçar depois de noites afora sem sono, e manhãs e dias de desespero, aflições que às vezes pensei em me jogar no mar para ser levado pelas ondas e ser acariciado pelas pedras que rolariam sobre minhas costas turva da espera de você, ou talvez de mim.

Celso Andrade.

quinta-feira, 14 de maio de 2009


Tentei estar dentro de você todos esses dias, no que via e que sentia,
tentei te querer assim sem dó nem medo, nem susto nem rancor,
sem hesitação tentei ,te querer,quem sabe um reconhecimento, uma correspondência de mim em ti, ao menos ousei.
Nesses dias de dores intermináveis e noites a só.
Te busquei, te liguei, nunca te pedir, apenas aceitar-te assim, como quem quer alguém, -eu queria você! Não temos culpa, tentei.
Tentamos.

Celso Andrade

Dias no poço


Tudo que tenho e posso te dar é esse silêncio que me sobrou, de tudo que passei desde que te conheci, e esse nó na garganta que que me quer enforcar, o meu peito palpita a ponto de infartar, sobre essas folhas que voam sobre minha cabeça , não sei do que preciso, está ficando muito confuso tudo isso, e essa louca vontade de acabar com o que nem chegou a acontecer, não me precipito, estou piorando as coisas, sei que vai passar, tenho fé, isso que chamamos de pequenas-esperanças, acho que estou me acalmando..., Não, apenas vomitando tudo que você depositou em mim desde o dia que te conheci, o teu olhar de desejo desgarrado, a tua boca faminta desejando meus lábios que não podem mais ser tocados pelos teus porque perdi o contato, as cores, sobrou apenas o cheiro, esse que quase me afogou nesse mar sem ondas, apenas cheio de peixes famintos querendo devorar de vez isso que chamamos de pequenas esperanças... Mas continuo aqui a tua espera, sentado ao lado desse telefone empoeirado pelo tempo, nunca tocou, já não consigo reconhecer tua voz de solos de guitarra desafinada tocando jazz a antiga.Está ficando escuro tenho que dormir, pois a noite tem me consolado nesses dias de incansáveis procuras, portas abertas sem êxito e incansáveis desencontros: espero-te apenas com o teu cheiro que não sei até quando durará, sei que espero...

Celso Andrade

quarta-feira, 13 de maio de 2009

poço


Não me procure... , me deixe nesse fundo de poço que não sei se entrei ou me empurraram, não importa, que importa é que estou jogado aqui nessa mesmice de sempre, não te toco, não me toque não te quero, nunca quis, apenas busquei um corpo capaz de acolher esse coração que não sei porque ainda sobrevive a tantas quedas, tantos tormentos, tanta coisa louca e essa vontade de gritar que me calo. Você não pode me ouvir, o que de mim saia eram apenas acordes desse coração que me arruína, me jogou nesse poço que não sei se tem fim ou estou apenas atolado, preso por esse órgão que insiste em desobedecer minhas ordens.Não dou ordens nenhuma ,ele faz apenas o que quer, sofro com isso, apenas tenho alívio quando jogado num local como esse, sinto raiva, raiva do tempo que não passa, raiva de você que apareceu no meu caminho como chuva, deixou gente atolada, desabrigada e dessas poças de lama que me afundo mais e mais.Tenho medo, tenho sono, nunca tive alguém ao meu lado, preciso acabar essa carta que nunca será enviada, esse tinteiro que insiste em depositar tintas nesse papel que chamo de coração, quanta insistência, quanta perseverança das pessoas, sempre acabam mal, acho que estou descobrindo o segredo, é isso: preciso voltar, o tinteiro deposita apenas a ultima gota nisso que chamo de papel-coração,não serva para muita coisa, pelo menos pra desabafa, acho que consegui, amanhã continuo.

Celso Andrade.