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sábado, 29 de maio de 2010

Hoje cansei de mim














 Já vaguei por toda a casa,
sai na rua e nada mudou
Deito na cama - o sono me rejeita
Logo sou absorvido pelo tédio
olho o telefone para ver se há algum problema
(não há, ninguém se lembrou de mim hoje)
então percebo o vazio deixado em mim
o silêncio da cidade entrando porta a dentro
o sol também vai indo,
deixando-me à beira da noite
a dormir abraçado com a solidão


(Celso Andrade)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Fragmentos de uma noite





















Passeia pela casa
anda pelo breu
invade o quarto
senta na cama
me chama para a luta
tira as minhas forças
dissolve-me em lembranças.

Atiro-me no escuro
a procurar por passos
encontrei sombras
amontoadas pelo canto.

vago enquanto me tiras o sono
então choro de desespero
grito para dentro e
pergunto afoito:

De onde vens em meio ao breu
dar-me as mãos na escuridão
da noite?

Ouço panelas tintilar
camas ranger,
lá fora árvores balançam

Escuto num sussurro ventoso

Insônia..!

a querida Silvia, como queira -Sil.


(Celso Andrade)

Encontros

 














Levantar na ponta do pé que é pra não te acordar
escutando os susurros na cama me chamarem

espio pela sombra do quarto seus contornos ao deitar

aqui só sombra, lá fora vambora que é pra te esquentar

então me curvo lentamente sobre tua orelha e te beijo o pescoço

lentamente passeio pela casa quieta e espio o movimento
do vento brincar de cocegas o lençol balançar.

Pisas o chão frio da manhã onde estamos unidos pela insensatez
na mesma cumplicidade do anoitecer
onde senti teus lábios me tocarem pela primeira vez.


(Celso Andrade)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quantas vezes cairemos na mesma fossa?



Não somos obrigados a aceitas certas verdades
imaginar pode ser uma forma de fugi-las
algumas bocas estarão preparadas para nos sentenciar
alguma atitude que nos condene poderá ser exposta
na nossa face sem hora marcada para acontecer e então
ficaremos perplexo ante a força e o movimento interior
que nos atingirá
pois preservamos a integridade moral das pessoas
o inesperado as vezes fere , machuca
a boca é uma arma de gatilho preparado sem escolher a vítima
e um dia todos cairemos na sua cilada
se tiver maturidade suficiente para entende-las
darei risada da vida e suas brincadeiras sádicas.


(Celso Andrade)

Do sentir













Quase que passa desapercebido esse meu estado de letargia
por pouco não me perco dentro de mim mesmo
não pronuncio nenhuma palavra porque a podem ganhar outro significado
palavras falam mais do que si próprias
então ofereço minha expressão serena e séria
as palavras calam-se, então me calo e observo a lagarta virar borboleta.


(Celso Andrade)

Os meninos


Os meninos da rua
boquiabertos
observando
a chuva cair
gota a gota
sentindo
a força do céu
que em pranto
de alegria
derramara-se sobre eles
numa epifania
desmedida
de inverno
no sertão.

(Celso Andrade)

terça-feira, 25 de maio de 2010













Moro entre o fio a ilusão
de que algo acontecerá
e o sonho não realizado
equilibrado entre
a esperança da superação
e a conquista pessoal.


(Celso Andrade)


Elas

Senti um aperto no peito ao vê-la novamente
já não era mais a menina sonhadora de sempre
que um dia resolveu tornar-se cúmplice de uma amizade
era uma mulher madura carregando a doçura
e o peso do mundo na mesma medida que
seriedade, tristeza e vontade de viver.

O amor? Era mais pulsante, cheia de vida.

Para as mulheres da minha vida...


(Celso Andrade)



segunda-feira, 24 de maio de 2010

Um olhar sobre o mundo


Não há como fugir
não somos atraídos
nem convidados a pestanejar
todavia ser feliz com hora marcada
me consome demais.

Então fico atento a qualquer sinal
onde me encontre
onde possa investir e me sentir seguro
que o outro me queira pelo que sou
não pelo que represento.

Não ser consumido pelo mundo
virou tarefa diária
imaginar o futuro é fardo pesado
para aqueles que não
se ajustam ao senso comum.

Então continuo num mundo
onde estão a cumplicidade
pessoal e afetiva
sobre o ínfimo que consegui conquistar
sem hora marcada para senti-lá
e observar com certo encantamento
a felicidade teria que
ser sempre clandestina
como dizia Clarice.

(Celso Andrade)


sexta-feira, 21 de maio de 2010














Sem prever algo que pudesse mexer com a nossa
tranquilidade aparente
atravessamos a sinaleira deparando-se um ao outro
e então os olhares cruzados emudecidos
relembrado o passado,
a falta de comunicação ainda presentes
nenhum acordo proposto
o corpo de antes não mais se comunicava
com o de hoje
nenhum resquício de paixão
nenhuma demonstração de piedade
ou carinho antes comum entre nós
desde então fomos seduzidos pelo horror
das relações humanas,
o qual estaríamos para sempre preso a essa fatalidade
na qual jogaríamos pessoas sempre
que pressentido o perigo, como forma
de não retornar aquele estágio anterior
o nosso
marcado pela incomunicabilidade
caprichada pelo ego.

Pela espera do último gesto,
a conversa foi iniciada algumas vezes
não houve acordo, diálogo
ou acerto de contas, mas
algumas palavras mal pronunciadas
como: Olá, tudo bem, namorando? Ja casou?
todas elas afirmadas, porém falsas.

Sabia que havia algo a contar
mas ela preferia o silêncio
como resposta aos próprios fantasmas
então calou-se
respondi com partida
-era a melhor forma de diálogo que dominava.
Então...
O sumiço

Como resposta a eventuais frustrações
desfaçamos o olhar cruzado
o eventual encontro, o susto
e as nossas lembranças
com silêncio, raiva e desprezo.


(Celso Andrade)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Para os limites da mente















O fio de loucura que escorria sobre seu corpo
não queima mais ao sair  ao sol
nem  a brisa da noite fazias frio ao teu corpo.

O lamento dos ossos pelos passos firmes
não jaz influência sobre a mente suicida
nem os pés da memória clamam por calçados
pois estão sobre a lucidez de outrora.

A música e o  verso que escutas não podem mais salvar-te
restou-lhe abrir as portas trancadas
derrubar os murros fincados de nostalgia e ressentimento
atravessar fronteiras sem armamento algum
onde a roupa do corpo o aquecerá
do mais tenebroso escuro da tua mente suicida
embalando-te ao fio de alegria que
escorrerás pelo mais recôndito espaço triste
e então entoará teus próprios versos.


(Celso Andrade)

segunda-feira, 17 de maio de 2010



Então fumo para queimar pensamentos, não que eu esteja induzindo alguém a fumar, não é nada disso, só estou queimando uma folha de papel, onde não consigo escrever uma linha de pensamento qualquer , então transformo em cinza o que não quer sair da mente, depois escondo tudo debaixo na mesa, para um dia desses catar tudo e viver aquela sensação de tarefa cumprida depois de escrito um conto, poesia ou mesmo uma dessas cartas que não enviamos nunca, cheia de fotos e lembranças antigas, amontoamos na lixeira onde também não é esvaziada com perguntas sem respostas, um tanto bobas um tanto verdadeiras sobre determinada sensação, sentimento vivo, queimada na memória da mesa.


(Celso Andrade)

Entre goles de café

Me pego no ponto fraco da minha carência onde passo a chama-la de absurda, sim absurda porque no ápice do entendimento que penso ter alcançado, deparei-me com o medo de arriscar sobre um campo minado, - o mundo desconhecido dos nossos sentimentos- arriscaremos a razão, sim claro que a razão, sairemos menos feridos, menos machucado, porque nem tudo que é movido pela emotividade todo o tempo, porém nos tornado demasiado pensantes por causa do medo, não medo infantil, medo da frustração amorosa, medo de fantasmas passados - o qual não soubemos dominar e em algum momento nos assombrou, então me senti só e frágil num tempo onde a maturidade não estava escrita no nosso léxico. Foi um dia desses quando o tempo está chuvoso as ruas vazias e você se pergunta o que tem feito de especial onde possa sentir o coração pulsar a um alô escrito numa carta vazia, marcada pela nostalgia. Tudo isso parece a mesma coisa no momento em que vejo sucumbir conceitos e teria sobre a inércia da afetividade, e então lembro o momento em que me foi doado um ser e a sua beleza interna, e o medo me tornou feio, rude e intransitável.


(Celso Andrade)

domingo, 16 de maio de 2010

Dias em tédio

Hoje segrego-me do mundo,
distancio-me do homem que sou
e então pinto-me de preto
e logo passo desapercebido,
viro sombra escondida no canto do meu quarto,
onde nem sempre é silêncio,
onde sempre parto.

É uma vantagem desligar-se do mundo
em dias festivos de alegria
superficialmente forçada,
é o tédio beirando a loucura
é o mundo virando feiúra.

Bateram a porta, sem aviso entraram,
avistaram-me sombra
com um livro aberto,
era silêncio ecoando pela casa
era alguém precisando de espaço,
nem sempre é fácil encontrar,
mas sempre entendem o que faço.


(Celso Andrade)

sábado, 15 de maio de 2010

Meu penúltimo concerto com a Orquestra - São Paulo 2009

Saudades da época...
Para quem não me conhece estou tocando "Flauta" com um  casaco  Preto, para ser mais específico, apareço nos minutos (4:57), (5:08), (9:14 )





(Celso Andrade)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Brasil Negreiro



Navego contra a correnteza num navio onde minha beleza batalha a favor do navio negreiro, onde luto conta o passado de uma geração sem compaixão. Vingo o açoite que estalava o corpo do meu ancestral , racismo - desgraçado que canta as memórias do mundo escravo, solto alienando mentes perdurando até o presente, varreis os mares de miseráveis dixados para trás, procurais pela noite quem usa chicote em seu favor, continuo a navegar e passo pelo povo que não nota-me entrar pelas salas e discursar pelas orquestras, onde os meus de igual DNA não tiveram vez.

(Celso Andrade)

Da simplicidade



Nosso ponto fraco tende a se render a beleza escondida por trás das coisas, estaremos perplexo ante o movimento interior de paz que nos transmite pequenos movimentos no mundo, não saio a rua sem ser seduzido pelo silêncio da manhã, a pausa entre as falas transmitida pelo olhar que remete alguma mensagem, pelo esforço corpóreo com que se dança a natureza, os pássaros possuem o mundo ao aparecer do sol, o vento brinca com folhas como brinca uma criança na água, observo durante pouco tempo tudo se perder a tramitação das pessoas pelas calçadas, ao dinamismo com que a beleza natural é substituída pelo horror humano, a beleza humana dói para aqueles que aprenderam a enxergar o outro lado das coisas, e então me guardo todo, minha beleza escondida aos olhos do mundo, e espero o dia seguinte para contemplar o sorriso da natureza.


(Celso Andrade)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Arrepio















É, eu sei...
também me esbarrei ao sair do trabalho
veio me seguindo pelo caminho..
mexeu no meu cabelo
sussurrou no meu ouvido
umas coisas sem sentido
brincou com sacos e folhas pela rua
levantou o vestido das moças
veio até a porta de casa
subiu o assoalho
mas fechei a janela na hora.
Vento dentro de casa deixa muita bagunça
ninguém faz nada depois do trabalho mesmo.


(Celso Andrade)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Cantiga ao desamor











A cigarra canta
não é porque é triste
e solitária,
ela tem medo
que um dia algum
gafanhoto
cale sua boca
com um beijo desafinado.


(Celso Andrade)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Vadiagem













É muita Audácia  para uma pessoa só
Ninguém reparou nos detalhes do seu vestido
Ninguém percebeu sua voz mais branda
Ninguém te viu passear pelos canteiros da cidade.

É um poço de cheiroso enfeitando a cidade,
mas, ninguém a viu passar
Avisa as moças da cidade que não há concorrência não
É só a primavera maquiando-se para entrar verão.


(Celso Andrade)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Entre Eles


A expressão serena e rude na face,
havia doçura escondida no canto,
um tanto altivo seus segredos
Eles nunca foram normais...

O branco na hora de partir
o perdão pelo silêncio,
a casa da esquina vazia,
Eles nunca foram normais...
(assim falavam os vizinhos do casal).

Hoje a vizinhança acordou em luto
ninguém espreitando na porta ou janela
não há criança na calçada deles
só se sabe que foram viver outra vida,
e depois daquele dia se foram felizes
ninguém saberia, sabiam que a vida
na vila estava morna, morta,
na porta das casas, luto.

O bolero que acordava a vizinhança
não jaz mais na casa sem número
Sempre soube, eles nunca recebiam
visitas ou postais, sempre soube que,
nós nem eles nunca fomos normais...


(Celso Andrade)

Para que serve o desespero,
se sua companhia nos levará a fatalidade?
Seremos assombrados pelo monstro chamado
moralidade,
cruzar os braços nunca foi a melhor maneira
de curar a ferida aberta na alma.

Olho ao redor e observo o quanto somos
demasiados afoito,
imaginando sempre que a fatalidade espreita
nossa porta e por qualquer descuido que é
normal da vida, seremos açoitados, levados
como ovelhas para o matadouro humano e
onde se ficará preso, na mente e coração
das pessoas.

Reservo dentro de mim um lugar de contemplação
onde posso ver um caminho onde o futuro
é um estrada escura cheia de buracos e
monstros humanos caçando alma, ou vejo
uma estrada de barro onde em cada estágio
da vida, o medo será só uma pedra na qual
pisarei com esperança, onde a maturidade
me faça amar melhor as coisas, sem mais ilusão
e menos esperança.

(Celso Andrade)

sábado, 8 de maio de 2010

De vários pontos


O mundo consome o homem,
estar vivo consome a alma,
o homem consome o corpo,
o corpo consome a mente,
apaixonar-se consome tempo
tempo custa dinheiro,
dinheiro custa a dignidade
como é difícil ser humano,
por isso permaneço (pensamento)
da inspiração ao papel.

(Celso Andrade)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ao embalo dos corpos suados


E então encontro-me seduzido
pela conversa, pelo jogo de
sedução onde entrei sem perceber
o quanto era importante estar
cativado por alguém, na mente
na vida e no sentimento alheio.

No jogo de corpos entro sem
saber quais são as regras,
é impossível perder algo onde
a tentação é mais alta que
qualquer proposta de casamento,
então me embalo e deixo-me levar
pelo sorriso que fui seduzido,
pela outra-vida que me é doada
aos encontros, essa que não é
nem será parecida com qualquer
experiência vivida anteriormente.


(Celso Andrade)