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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eu

 

Tenho um sonho
Tenho um amor exilado
Se um dia não for nada disso 
Rico ou pobre, fraco ou forte
 Eu serei só um   
   A catar as rosas do chão. 

        Pedirei sabedoria aos de fino porte.
 A dormida na beira da estrada.
 E assim entre o amor e o livro
Entre o beijo e nada  
Pedirei sossego  
 Quando amor não mais restar
Pedirei água.   

     E se eu descobri que tudo isso é hoje
Reinvento-me sem medo
        Do sonho que mantém presa a minha liberdade.
       
Mais um dia partirei para sentir remorso do mundo
Para ver do chão brotar ouro e saudade.


(Celso Andrade)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Para os que se encontram e se perdem

Afundo no ombro e roubo o cheiro não habitual,
é outro corpo a roçar a minha pele quente,
é o novo, o estranhamento fazendo-se presente.
Faz-se ríspido a verdade ao coração,
ao corpo que se acha junto a outro corpo
só restará uma lembrança,
de algo vago e intenso.


(Celso Andrade)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Olho as fotografias de antigamente,
percebo com certo encanto
como aquela felicidade
estampada pelo grande sorriso era a pureza,
não que hoje eu seja impuro,
mais a minha infância tinha um certo sabor
pelo descobrimento
pelas cores
eu era o desenho
era cada nota tocada de cada concerto.
Hoje recompenso a quem achar, quem roubou-me a candura.


(Celso Andrade)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O sabor da manhãs


Só agora sinto
Só agora  adentro
e penetro no sim almejado.

O recíproco das confissões lidas
numa epopeia não escrita
o poema escrito no silêncio
para ler em pensamento.

Eis ao lado, agarra o teu
se já não podes,
recorres a um amor inventado.

(Celso Andrade)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010


Hoje não sorrio, não exercito boas maneiras, nem tento me socializar. Tento o silêncio, a visão individual do que Lya Luft chama afetividade, continuo gostando de mim e sei que é disso que nasce a vontade, e dessa vontade o impulso da mecanização moral e ética.


(Celso Andrade)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Pra o que não cabe

Tem sempre uma roda de amigos a ser convidado,
embalo de cadeiras, conversas, altíssimas gargalhadas.

A também alma, e dela digo que desconheço sua profundidade.

Entre idas e vindas ninguém sabe do meu eu-lírico
e que ele anda aos tropeços dias a fora.


(Celso Andrade)

domingo, 12 de setembro de 2010

Não adiantaria a facilidade dos encontros,
a fuga dos dias é assustadora para os que
não encontraram.
Quem se importa, quem o salvaria..
É o vulto da tranquilidade não almejável,
ainda que se faça saudade, ainda que vire dia,
sei que é do fio da lucidez o fantasioso,
mais o real agoniza na alma.


(Celso Andrade)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sinto a natureza fortemente furiosa
sinto meus passos marcarem o caminho
sinto o chão.

Eu vejo o trivial fazendo-se grande
eu vejo a fome dos corpos
a sede dos olhares
arremessados contra o que um dia chamei
minha-afetividade.

Mais o mundo é grande e não cabe em uma vida
então explorá-lo é a minha tarefa.

Eu tenho sede
eu tenho o mundo
eu sou o nada
eu sou o que baterá a sua porta
e irá embora antes de saberes de onde venho.

Eu sou a figura cantante na estrada,
Sou o que restara de um amor selvagem.


(Celso Andrade)