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sexta-feira, 17 de julho de 2009

diário de uma (des)esperada




Ela tinha 22 anos, não só de idade ,de prisão(não uma prisão material)falo de ser impedido de realizar-se, quase de viver.
O desejo de sair da situação, que no início parecia a solução de seus supostos defeitos e problemas a tinha prendido no meio de um povo, de um costume bem diferente o qual escolheria após tantos anos de resignação, mas não é disso que eu quero falar, quero relatar que depois de tantas tentativas e pedidos a esse que chamam de Deus, se sentia cansada de tanta espera, de tantos pedidos quase nunca respondidos, talvez a porta que chamavam de certa não era a que ela escolheria com 14 anos se soubesse o doce da liberdade, mas aquela porta que entrou a tinha conduzido a um caminho quase sobrenatural, não era isso o que desejava, já não se reconhecia mais como humano,tinha que ser quase como uma super-mulher, capais de tudo, de esconder defeitos, e fingir que possuía desejos.
A vontade de sair por aquela porta que a conduzia esse lugar sem nome, mais tão familiar lhe deixava angustiada, tantas pessoas ao seu redor e se sentia mais só que uma pedra abandonada no meio do rio, seus pais não sabia das suas vontades nem de seus anseios (não falo de uma menina mimada, falo de uma adolescente intelectual, que desde bem novinha estudava piano, pintava telas, e um dia descobrira que podia escrever poemas).
Talvez empurrar a porta seria a solução de seus problemas, mas afinal qual era seus problemas? Isso se perguntava todas as manhãs ao acordar, - que tenho eu de diferente?-Sou pior que todos?-Não posso ser feliz e livre de tabus e regras impostas não sei por quem?Essas perguntas a martirizava, um dia dentro daquilo sem nome sabendo apenas que tinha entrado por uma porta estreita e infinita, descobrira que existia uma janela, e que essa janela apenas lhe dava a possibilidade de olhar por um período, que só mais tarde a enxergaria inútil! Às vezes pesou em se jogar janela abaixo, mas não enxergava o que tinha lá(via apenas escuridão).
Os anos passavam e o desejo de arrebentar aquela maldita porta aumentava, pensar em atravessar já era um perigo, talvez nem fosse tão perigoso assim, precisava coragem, pois sempre fora tão audaciosa e persistente nas suas escolhas, mais aquela,aquela decisão como falei, era a única que a martirizava, e assim quase impedia de viver.


Inconcientemente começou uma pequena mudança em sua mente, -não sei exatamente explicar mais é como se uma espécie de esperança, de mudança, uma possibilidade a tinha invadido depois de devorar mentalmente cada palavra de uns livros que andava lendo.Vivia agora inundada de pensamentos, talvez Caio F,ou Clarice lispector, não sabia exatamente o que era , sabia apenas que algo bom a havia inundado.Até a porta ela já conseguia ver, só lhe faltara coragem de tocá-la, de empurrar , de abrir e descobrir o outro lado o outro sabor, a nova vida que a invadiria até então a mesma à 22 anos.



Depois de tanta hesitação, Suzana não sabe como, apenas lembra que numa noite de feriado, já sem forças e tão cansada, se entregou..., aquele momento parecia o fim do mundo para ela, poderia fazer tudo na vida menos aquilo, uma vez empurrada a porta, o sem volta, talvez o nem tão sem volta assim. segundo os costumes do seu povo Suzana havia transgredido. Afinal de contas quem viu o que fizera Suzana? agora ela se sentia mais livre, como se um monte de correntes se tivessem partido, ganhara uma nova vida nem tão diferente assim, o medo da porta era o que a deixava confusa , mas só depois de esperimentar o desconhecido ela soube ver o mundo de outras perspectivas.


Pensando ter terminado o seu exílio, Suzana não sabia o que a esperava, sabia apenas que enfrentaria pais e irmãos opressivos, nunca aceitariam ela daquela forma, vestimenta diferente, novas amizades, enfim, vida nova, o que viria seria fácil ela conseguira dar conta, até então o preconceito, regras e tabus auto-impostos, tinham sido vencidos por ela, o importande é que houve uma abertura para o novo , desde que se tenha ao menos um raio de luz a entrar por janelas e portas, a grandes possibilidades de uma vida plena ou um grande início de felicidade.




Celso Andrade.

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