Essa noite, eu procurei loucamente um poema de Barthes que eu havia lido no ginásio, num daqueles livretos que ficam abandonados no canto da biblioteca, onde ninguém chegava lá- não sei se pela falta de luz ou preguiça pra tirar a poeira de cima deles - eu me lembro que demorava horas folheando aquele amontoado de livros no colo, um por um,até encontrar um verso de Barthes que dizia: De amor não falemos. De que serviria dar nome ao que encerra somente o equívoco?
Eu estava debulhado em Barthes como numa cena ponográfica dentro da biblioteca, algo fixo e obsceno para alguém do ginásio, cada verso era perverso e prazeroso, transávamos no canto escuro e sombrio do colégio eu, Barthes e o verso que nunca saiu da minha cabeça, tão novo e já tinha amante.
Depois que saí do colégio e perdi "R.B."- como passei a chamá-lo entre uma ida ou outra a biblioteca - não recebi nenhuma carta imprópria, com caracteres libidinosos lúbricos e indecentes.
Celso Andrade
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