Páginas

sábado, 31 de julho de 2010

Urbanidade

Ando sempre com pressa, não paro para olhar a face suada das pessoas que passam por mim na rua, vez ou outra me esbarro em algum objeto, mais não perco o ritmo, ando como se não existisse ninguém por perto, ando e ninguém sabe que um dia a felicidade entrou a minha porta, mais ninguém percebe meus contornos cinzas e empuerados, talvez dessa caminhada que dou todos os dias. Por vezes solto um oi a alguém que já não faço questão de saber quem é, mais não paro, seria audácia demais falar de mim, o que faço, se estou ou não trabalhando, me fazer em pedaços e depois explicar parte por parte de mim, ia demorar. Preciso me apressar se não o banco fechará, e depois chegar com aquela cara de por-favor-não-puxe-assunto-comigo-nem-olhe-a-minha-roupa, porque ainda preciso de energia para enfrentar o resto do dia e não-sei-se-sobrevivo-mais-essa-noite.


(Celso Andrade)

2 comentários:

Bibiana. disse...

Perfeito

lídia martins disse...

Por um instante cheguei a pensar que fugia do encontro de "algum olhar, que anda perdido por aí". Me ocorreu agora.