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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Como um dia de domingo


Sempre me deparo com o não ter a quem ligar, ou olhar para metade da agenda e declara-lá inútil, ou tentar algumas pessoas, uns amigo distantes o qual não sabemos mais o que fazem ou onde vivem, mais sempre uma furada, falarão dos diplomas, das viagens a Europa, do casamento no fim do ano, do filho a espera, a primeira colocação no concurso, desisto mesmo antes de discar o primeiro número, então penso em sair conhecer gente nova, falar coisas que na manhã seguinte não te perguntarão, nem cobrarão promessas, nem te ligarão contando do namorado que a deixou esperando na porta do cinema, muito menos te chamará para ir a alguma festa forçado, fazer caras e bocas, perguntar de onde você é, o que você estudou, trabalha com o que, ou dizer umas verdades fúteis como você é bonito, diferente dessa gente toda, ou pedir-lhe um beijo sem gosto, beijo de sexo, depois sumir no meio da multidão com um martini ao lado, pedir seu telefone para fingir ligar no outro dia ou no meio da semana com vontade de fazer sexo, ou nem olhar mais a sua cara vazia, muda e quase irreconhecível de tantas, e muitas saídas, hoje não me rendo, o quarto é melhor que tudo, melhor com uma canção de final de filme trágico, coração pulsante a espera de que alguém ligue, nem que seja para a voz sentir chamar seu nome, apelido, perguntar como vai, o que esta fazendo, e você inventa alguma mentira para não repetir mais uma vez que esta escrevendo que não tem saco, nem vontade de usar a máscara do cotidiano, escovar os dentes pentear os cabelos, ou nada disso, acompanhar alguém a rua, ir ao teatro, chorar quando alguma coisa no espetáculo falar de vocês dois, lembrar a primeira briga, a primeira transa, a primeira semana sem se ver, a primeira ligação rejeitada, o último encontro, a última conversa. Pensou seriamente se queria viver a mesma vida de antes, não duvidou em escolher a roupa no guarda roupa, em passos largos quase dançante, escolhei um jazz antigo cheio de vozes finas, caprichosíssimas nuances repetindo o movimento do banho, quase triunfal de tanta vida escondida debaixo de cada desconforto passado, só resta uma noite tranquila e calma, talvez em algum restaurante, bar, ou mesmo a cama, acordar como se nada tivesse acontecido, ou pensar estar nascendo outra vez num belo dia de sol.


(Celso Andrade)

4 comentários:

♪ Sil disse...

Amoreeeeeeeeeeeeeeeeee!

Olha a surpresa da noite:
Você me escrevendo, eu correndo pra responder e te lendo.
Celso...essas inquietações acima são tão normais...quantas vezes alguém aqui não abriu a agenda, olhou o passado, pensou se queria continuar com os mesmos amigos fazendo perguntas chatas (e mesmas), querendo correr de ter que dar explicações e ouvir relatos chatos, cansativos, repetitivos...sei lá.
To lendo um capitulo do livro do Caio que ele tbm tinha essas inquietações.
E quem poderá dizer? Talvez tudo hj não passe apenas de uma inquietação nossa e amanhã a gente acorda ai com um belo e novo dia de sol, e as coisas de ontem não sejam as mesmas.
Só sei que te ler me faz bem demais.
Eu tava com saudade!
E eu te quero bem!

Também te abraço forte!

ítalo puccini disse...

ficou com um ritmo muito bom essa tua narrativa. gostei!

abraços.

Marinha disse...

Celso, cheguei aqui não sei como, mas gostei do que li. Tua prosa é cheia de ritmo e de uma verdade aguda.
Amizade é troca, não é? Via de mão dupla. Ou será outra coisa qualquer, menos amizade.
Bjo e paz e sorrisos pra ti.


Bem, se quiseres conhecer um pouco de meus escritos, aproveito para contar que o Ferrinho anda aprontando lá no blog. Dá uma espiada para conferir a arte da vez do pestinha! Se ainda não o conhece, acho que gostarás muito do menino.

Helene Eichel disse...

Cada ser humano tem seus desconfortos.
Sinceramente, não entendo por que esconde-los.
Não se deixe fazer nada que não tenha vontade e não se prenda a vontades antigas. Não quer sair hoje, fique em casa. Se quiser sair amanhã, saia. :)