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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A isso, chamamos pequenas-esperanças


Os pequenos detalhes é que vão nos matando aos poucos, os jestos bonitos, os lugares frequentados evito para não me ferir mais do que posso suportar, o cotidiano torna-se nosso inimigo, o telefone é uma arma apontada sobre nossa cabeça, ouvir o nome é como ser jogado abismo abaixo sem aparo na descida, mais o sono é aliado como qualquer forma de abandono ou lembrança ruim. Sei que todas as manhãs esqueço nem que imperceptível aos olhos cada jesto, parte ou algo que me remeta a você. Dias e diasvivo e ninguém percebe que te mato aos poucos, mato o amor, a lembraça boa, as dores, seus gostos, a maneira de sentar ou dormir, as canções, viagens, dentre todas elas o sexo que de forma ou outra vai sendo substituído por outros corpos, bocas, sorrisos trocado. Mãos postas a nos levantar a cada hora, minuto e segundo que você vai sendo apagado de vez de mim do que fomos e por isso continuamos a gostar de tudo que tem vida.


(Celso Andrade)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Por isso tentamos e arduamente não desistimos.


Uma espécie de mão magica me segura para não enlouquecer, para não me levar em lugares muito conhecidos cheio de lembranças, há uma espécie de desespero gradual que aumenta e diminui a cada hora do dia, a cada ligação ou abraço recebido, qualquer tentativa de aproximação soa mais inútil que o suicídio desnecessário, debates e monólogos dias a dentro numa louca tentativa de não perder o fio da vida, da lucidez do desejo escondido de continuar, da contemplação do sol, do eu-que mais importa nessa hora.


(Celso Andrade)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Como um dia de domingo


Sempre me deparo com o não ter a quem ligar, ou olhar para metade da agenda e declara-lá inútil, ou tentar algumas pessoas, uns amigo distantes o qual não sabemos mais o que fazem ou onde vivem, mais sempre uma furada, falarão dos diplomas, das viagens a Europa, do casamento no fim do ano, do filho a espera, a primeira colocação no concurso, desisto mesmo antes de discar o primeiro número, então penso em sair conhecer gente nova, falar coisas que na manhã seguinte não te perguntarão, nem cobrarão promessas, nem te ligarão contando do namorado que a deixou esperando na porta do cinema, muito menos te chamará para ir a alguma festa forçado, fazer caras e bocas, perguntar de onde você é, o que você estudou, trabalha com o que, ou dizer umas verdades fúteis como você é bonito, diferente dessa gente toda, ou pedir-lhe um beijo sem gosto, beijo de sexo, depois sumir no meio da multidão com um martini ao lado, pedir seu telefone para fingir ligar no outro dia ou no meio da semana com vontade de fazer sexo, ou nem olhar mais a sua cara vazia, muda e quase irreconhecível de tantas, e muitas saídas, hoje não me rendo, o quarto é melhor que tudo, melhor com uma canção de final de filme trágico, coração pulsante a espera de que alguém ligue, nem que seja para a voz sentir chamar seu nome, apelido, perguntar como vai, o que esta fazendo, e você inventa alguma mentira para não repetir mais uma vez que esta escrevendo que não tem saco, nem vontade de usar a máscara do cotidiano, escovar os dentes pentear os cabelos, ou nada disso, acompanhar alguém a rua, ir ao teatro, chorar quando alguma coisa no espetáculo falar de vocês dois, lembrar a primeira briga, a primeira transa, a primeira semana sem se ver, a primeira ligação rejeitada, o último encontro, a última conversa. Pensou seriamente se queria viver a mesma vida de antes, não duvidou em escolher a roupa no guarda roupa, em passos largos quase dançante, escolhei um jazz antigo cheio de vozes finas, caprichosíssimas nuances repetindo o movimento do banho, quase triunfal de tanta vida escondida debaixo de cada desconforto passado, só resta uma noite tranquila e calma, talvez em algum restaurante, bar, ou mesmo a cama, acordar como se nada tivesse acontecido, ou pensar estar nascendo outra vez num belo dia de sol.


(Celso Andrade)

sábado, 8 de janeiro de 2011

Fragmentos de uma Carta confessional l


Tenho quase a certeza de que preciso repensar se quero viver mesmo essa fantasia, a vida não é um filme que se mudas as partes, põe mascaras e encobre o que não é belo. Quando acho que fui premiado logo a repressão se faz presente, preciso de um tempo para mim, pensar no quero viver, se somos mesmo aquilo que éramos desde o início. Sei que tentamos mais não funciona, não acontece, preciso que vá. Te deixo ir, não tente me encontrar. O que muda se voltarmos a viver nossa vida como éramos antes de saber um ao outro, onde não tinha fantasia alguma? Partirei, não me procura tampouco fantasia, gosto do real, do que posso apalpar.

Te abraço.. forte
     Anônimo


(Celso Andrade)

Onde o homem impuro deposita seus fatídicos sentimentos e lhe joga migalhas, acredite no que não vê, a aparência sempre terá outra face e estará preparada para a qualquer momento mostrar-se inteira para o que você ainda não viu, se hoje te ri amanhã te empurrará da ponte mais próxima, acredite, você não sabe nada sobre o aparentemente conhecido, saiba que eu poderia estar aqui escrevendo uma porção de coisas bonitas, uma porção de coisas inventadas para te fazer feliz, alegre e o caralho a quatro, mais saiba que eu não estou inventando mais uma estoriazinha para me fazer nobre ou superior, mais é que cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".


(Celso Andrade)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Vivendo vozes"













Há alguém batendo ta porta,
pede para entrar com uma voz tênue e firme,
mais demoro a levantar,
já bateram assim outras vezes,
foram meninos de brincadeira,
as vezes quebram a maçaneta ou sujam a porta,
mais a voz as vezes perto outras longe
parece ilusão, ri, pergunta ou emudece
me fazendo homem, me fazendo menino
também não te vejo tampouco te toco.
O problema é que tenho espaço
pode ser loucura ou até cansaço,
mas o que faço?
Não faço mais nada além de te ouvir
falar essa canção que em mim ri.


(Celso Andrade)

Sempre tu a trocar-me as palavras
e não atrasar os passos
Sempre você a correr em sombras
e sonorizar meu silêncio,
é sempre tu a assassinar a
tristeza e fazer-me menino.


(Celso Andrade)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Novo? Só os pensamentos..

O que não umidece,
o que que não amadurece
o que nem ainda é chuva e amanhece num vão,
num porão escancarado para o dentro sentir brotar
do chão, da mão, dos nãos que a vida ainda nos dá.

Dos deuses na esquina mirar, esquecer, gargalhar
os tropeços, ócios e ofícios do viver
de se manter vivo, sóbrio dessa palhaçada de amor
não se pode vacilar, tropeçar jamais.

Cante, quando jamais não poder esqueça,
veja, aqueça as mão na lareira e volte,
retorne a luta enquanto sangue ainda houver
bata, peça, jamais implore.

Nunca impeça de alguém chegar, pular, sorrir
beijar, só não se deixe esmagar, ameaçar,
até arrebentar-se do medo de perder.


(Celso Andrade)