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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009


O preconceito não salvou ninguém,
o preconceito nunca salva, segrega e
enche o peito do homem que o faz
e destrói almas desarmadas.

O preconceito é maior que o homem,
maior que o homem são suas futilidades,
o preconceito é fútil, é alimento
de medíocres.

O preconceito derrubou casas,
dissolve lares, o preconceito não salva
mata inocentes, porque o preconceito
é maior que o homem.

Maior que o preconceito é a ignorância
o preconceito é um homem sem afeto,
maior que o preconceito do homem
é o oprimido de cabeça erguida.

Celso Andrade

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

I Motivo do poço - A saída


Era um dia frio e apenas uma vaga lembrança daqueles dias dentro do ciúme e da solidão do abandono, não que ela quisesse estar passando por aquilo -os piores dias da sua vida, dentro daquilo que se pronunciado à sua vista choraria desesperadamente afoita, o seu íntimo totalmente dilacerado, havia sido substituído por uma alegria jamais imaginada dentro daquele ciclo, pela primeira vez a vi sorrindo, parou de tomar medicamentos, havia soltado os escuros cabelos, pensou que remoer o passado é afundar mais no poço que não tem limites, cada memória lembrada, cada beijo sonhado, o cheiro, os traços da outra pessoa a afundava mais e mais, porém agora era só uma lembrança de algo que já não queria viver outra vez, então saiu para a rua e gritou bem alto que queria viver outra vez , mais não como aquela mocinha que fora um dia, nunca tinha visto Leilah com tanto brilho nos olhos de felicidade misturado aquele sorriso que nunca havia dado, era a possibilidade de viver outra vez tudo aquilo que não fora um dia: Livre.

Celso Andrade

terça-feira, 29 de dezembro de 2009


Apesar de todos os tropeços da vida, e suas frustrações que serão experiência ou danação de cada um, eu não perdi a capacidade de amar, nem tiraram -me a alegria, e essa louca vontade de amar continua pulsando em mim, as vezes sorrateiramente, outras mais latente, porém, nunca deixando que matem ou se vá com os amigos que se foram silenciosamente ou os amores que partiram num cortejo dilacerado, esse engajamento que habita em cada um tem que ser cuidado, mais que uma rosa nas mãos do jardineiro, como um filho que parimos internamente, criamos internamente, e morre somente quando morremos.

Celso Andrade

sábado, 26 de dezembro de 2009

O outro


O que mais me doía nos finais de relacionamentos eram as coisas não dita, os pensamentos sem êxito, e o buraco no coração cicatrizando enquanto não se esquece a outra parte, o outro lado, a convivência a dois, as banalidades a dois, a luxúria, o cheiro do outro, o jeito do outro cada vez mais seco e latejante no peito, esperando passar os dias dentro do vazio.

Celso Andrade

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

II Motivo do pigmento


Hoje eu quero falar das rosas, mas é preciso
que tire dos bolsos da alma todas as velhas
e podres rosas do passado das relações fracassadas,
porque rosa que é rosa só é rosa se for tratada
como rosa, plantada regada e cuidada,
não amassada, pisada e maltratada,
sendo assim o mundo fica rosa,
porém, germinada da paixão e da paz
deixando de ser rosa porque foi misturada,
e se misturada foi, exerce várias faces,
umas claras outras escuras, como o mundo
para uns é claro para outros escuro, não deixando
de ser mundo, porém rosa.

Celso Andrade

I Motivo do pigmento


Hoje eu não quero falar do amor,
da sorte, nem de mim,
Não quero me prender a desolações,
quero falar do azul, esse que te cobre
que me cobre e encobre o mundo
em dias de sol, porque o azul não provém
de ninguém nem precisa se misturar
para ser ele próprio, sem água ou pigmento
que possa-te gerar, como eu não preciso
falar do amor para senti-lo, pois sou o azul,
esse mesmo que cobre-me os olhos.

Celso Andrade

terça-feira, 22 de dezembro de 2009


Ainda ontem acordei nostálgico,
liguei para alguns amigos e
ninguém atendeu ou não quiseram
falar comigo, chorei um pouco,
dormi mais um tanto, ouvi Mozart
guardei minha dor no bolso e fui trabalhar,
é o que pode-se fazer quando o corpo
pede sustento e alma pode esperar consolo.

Celso Andrade


Outro dia fui a casa da minha amiga beber do teu silêncio,comer das tuas palavras, sentir sua respiração,apertar suas mão de experiência guardada entre as unhas sujas do dia a dia, escovar seus cabelos de esperanças entranhada nos fios e poros.
Ouvi suas lamentações, objeções da vida, seu conselhos sábios que só amigos mesmo na escuridão da vida entendem-se, salvando vidas
e construindo pontes de esperança.

Celso Andrade

Fragmento de fé


Não era essa a vida que tinha pedido a Deus,
tão pouco a mornidão do cotidiano,
eu pedi uma vida simples não parada,
eu pedi alegria não a loucura da adrenalina
eu só tinha uma fé pequena e barata
e isso bastava pra mim, só uma fé
que me fazia acreditava nas coisas
e pessoas, no mais trivial do sentimentos,
Deus, eu só queria ter esperança.

Celso Andrade

Bilhete da tolerância II


Espero a aura do dia que virá,
não do hoje apenas "vivido",
mais de um amanhã perspicaz,
não da moça que esconde
a bolsa do neguinho que passa
nem do mendigo que pede-me esmola,
quero a aura e a liberdade dos pássaros,
não da vizinha indiferente
nem do amigo fugidio de sempre,
desejo a fugacidade do vento
que os levam a outros bosques encontrar,
a brisa do mar que no cais
faz frio é lá que vou buscar.

Celso Andrade

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Íntimo domesticado


As vezes é preciso morrer por dentro
para deixar que o corpo exerce sua função,
sem o comprometer com dores diárias,
partidas inesperadas, paixões fracassadas,
para que as tarefas diárias sejam cumpridas
os deveres feitos e as obrigações em dia,
remexo em mim e onde está a felicidade?
procuro pelos cantos dos músculos,
cadê meu sorriso que ainda ontem estava aqui?

Celso Andrade


Não que eu estivesse para baixo
era só um violão tocando e eu...
parado ouvindo alma gemendo
de apreço e nostalgia cada nota
entrando-me aos poros
eu não queria nada só um amor
desses de inverno de aconchego
ouvindo o mesmo violão que agora toca
e me toca mais se amor não existir
quero apenas o amor do violão
que toca meu intimo e tira-me do vão.

Celso Andrade

sábado, 12 de dezembro de 2009

Bilhete da tolerância I


Eu ouvi tudo em silêncio,
eu vivi em silêncio,
fui esfaqueado por palavras,
e exorcizado por atitudes
engoli cada frase que vinha-me a mente
e nunca era pronunciada,
pisei em cacos de afrontas,
e no silêncio estava minha alma
mergulhada na comiseração humana
presa no hospício da caridade,
e solta no ódio sem causa.

Celso Andrade

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009


Acordei meio pressagiado hoje,
como se alguém tivesse passado tinta cinza
no meu coração, o pior é que a tinta estava fresca
era algo que estava vivendo sem saber ao certo a verdade
eu sabia que existia da minha parte algo profundamente
verdadeiro e puro, mais a outra parte... sujeira
saiu e deixou meu coração pinchado: Tristeza.

Celso Andrade

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A Claricear



O que importa as palavras que disse Clarice
no seu mais recôndito ser afetuoso e verdadeiro,
se eu já não existo dentro de mim, porém em seus livros?
Viverei apenas á margem do meu ser menos recôndito:
o corpo, e sentirei o que disse Lispector no seu
intimo confuso de tanta certeza armazenada
em um corpo de cabelos loiros, olhos puxados, e
voz sonambular acinzentada num corpo frágil,
de todas vidas que não deu tempo de viver e descrever.

Celso Andrade

sábado, 5 de dezembro de 2009


Eu continuo aqui,
nessa esquina de mim
sem ti, pois não tem fim
onde dobra essa rua
chamada alma,
nessa casa que agora é sua
e já não tem mais calma.

Celso Andrade.